Ele estava no ar
olhando para o céu, em um instante o chão não exercia mais força sobre seu
corpo que plainava como uma nuvem. Um sorriso em seu semblante o fazia
esquecer-se de toda a situação que se encontrava e sentir apenas o vento que
fazia seu sobretudo negro tingido de sangue e seus cabelos longos e escuros
dançarem ao ar livre.
Aos poucos o céu começou
a se afastar e o chão o puxa com imensa força, como se o quisesse lembrar que
não possuía asas para voar, mas mesmo assim, caia com graça e como se estivesse
dançando em câmera lenta pelo céu. Neste instante Crucius voltou a lembrar de
onde estava vindo os pequenos pedaços de vidro da janela que dançavam ao céu
redor competindo para ver quem cairia no chão mais rapidamente. Ele lembrou que
iria morrer, pois uma queda daquela altura da torre do castelo era fatal. Neste
instante fechou seus olhos e pode fugir daquele momento com seus sentidos. Lembrou-se
do toque dela com seu tato, da melodiosa voz dela com sua audição, do doce
aroma dela com seu olfato, da inebriante imagem dela com sua visão e do sabor
de seus lábios com seu paladar.
Abriu seus olhos, e
sabia que mesmo seu algoz tendo o lançado para uma morte certa, ele aceitaria
sua morte em paz, pois ao lembrar-se de sua amada ele teve a certeza de que
viveu de verdade. Crucius sabia que o inferno o esperava, pois sua cota de
pecados era suficiente para condenar três vidas inteiras. Sempre acreditou que
sua vida possuía um propósito maior, que faria algo grande, mas enquanto as
nuvens se afastavam, ele percebeu que ou esteve enganado ou estava morrendo
antes da hora.
Em sua mão estava à
espada de lâmina negra e adornos vermelhos, sendo limpa pelo vento que retirava
as gotas de sangue daquele que o arremessara da torre. Lembrou-se de seus
companheiros que o apoiaram em sua jornada, dos muitos que deram suas vidas
para somarem a sua força. Lembrou-se de tantas coisas e ficou assustado de como
poderia lembrar-se de todas elas em um espaço tão curto de tempo que era uma
queda. Fechou seus olhos sabendo que não os abriria mais, e adormeceu como se
estivesse cansado de uma longa viagem.
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