terça-feira, 21 de agosto de 2012

CAPÍTULO 5


- Crucius... Crucius... Acorde...
Ao som desta voz doce e gentil, os olhos de Crucius se abriam rapidamente, mas sua percepção de espaço foi voltando de forma lenta e gradual, fazendo a claridade e confusão de luzes se encaixarem em formas, o silêncio aos poucos ser tomado por ruídos e sons e sua pele sentir arrepios do vento que deslizava por seu corpo e penetrava pelas frestas de suas vestes rasgadas e sujas.
Levantou-se sentindo seu corpo pesado, e enquanto sua consciência voltava vagarosamente, observou o ambiente para se localizar, e se viu no alto de uma montanha pedregosa, onde o vento cantava uma melodia gélida e arrepiante. Aparentemente não havia sinal de vida, mas sentiu que a trama da realidade era mais fina naquele local. O Sol se ocultava pela densa neblina, mas pela sua localização ele notava que ainda era manhã.
Não encontrou boa parte de seus pertences, mas sua espada Rainha Vermelha estava cravada no chão próxima a ele, como se estivesse o observando e protegendo durante o tempo que esteve desacordado. Quando apanhou sua companheira, notou que aos pés dela havia uma inscrição cravada na pedra. Havia o número “XIII” cravado a lâmina e rusticamente no solo, e pelo que podia notar não havia sido feito a mais que dose horas atrás.
Dores pareciam competir por atenção no seu corpo, mas se esforçou para ignorá-las e lembrar como fora parar naquele local. Por maior que fosse o esforço que fazia, quando tentava voltar ao que aconteceu se via em um deserto de memórias fragmentadas. Lembrou de um combate violento, mas não conseguia enxergar com quem se digladiava, lembrou de um olhar encantador que aquecia seu coração mas não sabia a quem pertencia, e também de uma risada forte e voraz, que fervia seu sangue com fúria.
Tentou encontrar respostas enquanto caminhava, mas em pouco tempo percebeu que não as encontraria. Seja lá o que havia acontecido, era como se parte de sua memória havia sido bloqueada e em seu coração sabia que coisas muito importantes precisavam ser recuperadas. Quando deu por si estava diante de uma pequena queda d’água, e sentiu que um bom banho poderia purificar sua mente e corpo, e mergulhou sem sua roupa, deixando apenas sua espada a mão. Nunca houvera provado algo como aquilo, pois a água cristalina e brilhante parecia restaurar suas energias e trazer uma paz que a muito não sentia. Revigorando suas forças. Sentiu uma estranha presença que o observava, que o fez empunhar a Rainha Vermelha rapidamente. Não havia nada hostil ao seu redor, apenas as pedras e a vegetação que o cercava. Questionou se não estaria
Aos poucos a temperatura fria começou a incomodar, a água começou a tomar um tom escuro, o odor e o sabor putrificou e sentiu brotar do solo sob seus pés uma sensação que conhecia muito bem – Restos de corpos humanos. Sentiu que deveria se deslocar, mas mas seu corpo foi rapidamente envolto por tentáculos viscosos e fortes que o seguraram no solo. Viu emergir diante dele uma enorme criatura, com uma pele escamosa e verde, um par de braços esguios que se prolongavam até garras pontiagudas, uma bocarra repleta de dentes protuberantes, olhos escuros e frios como de um réptil, e vários tentáculos que se debatiam velozmente brotando de suas costas. Aquele cenário belo ficou cheio de pedaços de corpos, que boiavam naquela água com cheiro de morte, onde a criatura hostil fitava para Crucius com um olhar sedento.
- Terá que pagar o preço por se banhar em meu território humano. Quero sua carne!
Crucius encarava a criatura imóvel e impassível, analisando sua postura arrogante e esperando seu próximo movimento. Sabia que a criatura estava confiante, e esse seria seu trunfo. Quando apertou firmemente o cabo de sua espada para dilacerar os tentáculos que o prendiam e poder se libertar, viu uma flecha furtiva atingir o olho da criatura, fazendo-a gritar de dor. Com o golpe certeiro a criatura se distraiu, e em um único golpe Crucius decepou os membros viscosos que o seguravam, e antes que a criatura percebesse, um vulto emergiu da água separando sua cabeça do corpo. Seu sangue verde e gosmento jorrava de seu pescoço, e desmoronou sem vida na água. Crucius chegou a margem nu, de espada em punho procurando de onde viera aquela flecha amiga.
- Deve tomar cuidado com as belezas desta montanha forasteiro, algumas podem ser fatais.
Por entre as folhas surgiu um homem baixo, de pele escura como a terra mais fértil, vestes que simulavam a vegetação e um arco em punho. Sua face lembrava um guaxinim, com olhos profundos e escuros e uma barba rala que moldurava uma boca risonha e debochada.
- Obrigado pela ajud...
- Não! Sou Marvin, e antes de qualquer coisa se vista. Não tenho o hábito de conversar com homens nus.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

IV -

Saira berrou mais alto que sua voz soprana permitiu, abriu seus olhos em um quarto banhado pela lua vermelha qual terrível sonho era aquele, punha suas mãos em peito arfante, dor muita dor sentira o toque da morte a levar mas ali estava novamente deita no quarto ao brilho do luar, seria um sonho, um presagio de mal agouro? Olhou envolta o quarto de moveis escuros fazia sombras e ela se encolhia, onde estava seu marido será que ainda não voltara? Deslizou cuidadosamente para fora do dossel da cama seu corpo coberto por uma camisola de seda onde longos cabelos castanhos vinham brincar. Olhou por um momento para o espelho iluminado por uma vela e se achou pálida, sentiu frio muito frio. Virou seu rosto para o comodo tão conhecido mas que lhe parecia particularmente gélido que pesadelo. Puxou a jarra de prata para por um pouco d´agua e sentiu dor muita dor em sua mão ela ardia como se fora queimada.
 - O que é isso?? - sua voz ardia perdida.
 Um calafrio subiu sua espinha enquanto uma voz cristalina lhe respondia.
 - Não consegues adivinhar pequena menina? Ela olhava atônita para todos os lados mas ali só via seu reflexo que sorria ironicamente para ela.
 - O que... como??
 O reflexo se mexia um brilho vermelho o imundava.
 - É simples, viste tudo, o desejo fora realizado estais aqui de pé bela Saira.
 Aquela voz não era dela e aquele reflexo apesar de ser dela parecia algo mais voraz mais sedutor.
 - Você é um demônio? 
 A risada parecia o grito de uma gaivota agudo e doloroso.
 - E você acha que és o que bela mentirosa?
 Como acha que seu amado Crucius reagira ao perceber em que você se tornará?
 Ela sacudia a cabeça o medo a preenchendo gota por gota.
 - Não ele não pode saber ele não pode entender não quero perde-lo.
 Os olhos do reflexo começavam a brilhar um rubro carmesim e enquanto ela mexia nos cabelos dizia com doçura.
 - Hora pequena irmã uma hora terais de contar a ele pois aos poucos teus cabelos se mancharam de escarlate e teu corpo dirá por si só mas fazemos um acordo ajudarei a ti a manter teu amado cativo e tu evitará que ele me traia. Saira alisava os cabelos percebendo que alguns poucos fios vermelhos já começavam a sair a cor do demônio, da luxuria, do pecado.
 - Tu juras demônio que me auxiliaria por este preço sem quebras sem segundas intenções?
 O demônio do reflexo girava brincalhão e então com voz delicada respondeu.
 - Se tu jurares Saira eu também jurarei afinal um demônio deve sempre cumprir teus contratos, questiono me eu qual caminho tu irás trilhar qual pecado irá tingir tua alma luxuria? Irá? Avareza? Existem tantas opções.
Ela apenas se conteve e sorriu que demônio sagaz.
 - Não importa o que meu amago guarda Demônio do Espelho eu sou Saira e sempre serei, juro te que se me auxiliares com Crucius irei fazer com que ele cumpra sua promessa da mesma forma posso garantir que se quebrares teu juro garantirei que jamais o quebrara de novo. 
 Uma risada estridente e cruel girou ressoou pelo quarto e então o reflexo voltou ao normal.
 - Ok, ok pequena mentirosa vamos conversar outrora nesta tua nova existência.